Volta a ladainha fracassada da reforma agrária tentada muitas vezes. Com mil problemas novos, é óbvio que ela não vai ocorrer

Comentário: com memória estragada pelos maus hábitos e pela idade, rememora um velho erro o presidente favorito dos juízes que o libertaram “por justiça” e ao mesmo tempo, “por justiça”, perseguem civis sem espaço para ampla defesa e contraditório (impossível quando não se sabe do que é acusado). Tal erro, ainda mais agora com a financeirização de tudo e a avareza singular de muitos produtores que só desejam vender para país não-confiável (mas que paga bem), só tende a se acentuar. O jornal Gazeta do Povo apresenta outros motivos

(…)

“Em meio a críticas e desgaste político devido à retomada de invasões de terra por parte de seus aliados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Lula teve seu “momento eureka” sobre o tema na live semanal “Conversa com o Presidente”. “Por que a gente tem que esperar o movimento invadir uma terra para mandarmos o Incra avaliar se ela é produtiva ou improdutiva para desapropriarmos? Por que o Estado não monta uma prateleira de projetos de terras improdutivas? Faz um convênio com as secretarias dos estados e apresenta à União um banco de terra disponível. Em vez das pessoas invadirem, a gente oferece, organiza. Essa é uma novidade que eu não pensei no primeiro e segundo mandato. Pensei agora e nós vamos fazer”, disse Lula.

A “novidade” pretendida por Lula representa, na verdade, o retorno a um modelo de reforma agrária adotado até o início dos anos 2000, mas abandonado após se tornar inviável frente à nova realidade competitiva da agropecuária brasileira. De 1995 a 1998 cerca de 72% dos assentados receberam lotes de terras desapropriadas pela União, a partir de declaração de improdutividade e desapropriação. De 2003 a 2006, já no primeiro governo Lula, a escassez de áreas improdutivas obrigou que 71% das famílias passassem a ser assentadas em imóveis comprados pelo governo, o que encareceu a operação em 70%. (…)

“Essa realidade foi confirmada por um estudo do Incra em 2022, com base no Censo Agropecuário de 2017, que mostrou que no bioma amazônico, em praticamente todos os municípios que possuem assentamentos de reforma agrária, a renda média das famílias assentadas é de meio salário mínimo por mês.

Para o presidente do Incra no governo Bolsonaro, Geraldo Melo Filho, qualquer nova política de assentamento não pode ignorar essa realidade de extrema pobreza. “Você desloca essas pessoas para um local longe da infraestrutura urbana, onde não tem hospital, não tem segurança, não tem educação. Ou seja, complica inclusive a vida dos municípios. Coloca as pessoas na terra e não dá condição para produzirem. Elas têm essa renda, que na verdade é uma não renda, e você termina tendo que dar a essas pessoas um tipo de suporte, de assistência e de programas sociais, que não fazem sentido. Não compensa o investimento de tê-las colocadas no meio rural”, enfatiza.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/prateleira-de-terras-defendida-por-lula-e-cara-e-nao-resolve-miseria-no-campo/

Como o ‘small is beautiful’ perdeu o sentido, escreve Xico Graziano

Comentário: segundo a Igreja Católica, as classes e propriedades de todos os tipos e tamanhos devem viver em harmonia, nem as pequenas dominando absolutamente, tampouco as gigantes. A descentralização é necessária, porém, na medida que isso resulta em benefícios sociais melhores. De uma perspectiva militar e de segurança nacional, para a nação é importante que haja indústrias para que possam ser militarizadas e/ou sirvam para a indústria militar, mas também é importante que haja descentralização em pequenas propriedades para que em caso de guerra o povo não passe fome, principalmente na transição de um fornecedor para outros. O livro de Schumacher, escrito pouco tempo após sua conversão ao catolicismo, falhou no tom alarmista sobre o fim do petróleo etc, mas contém diversos bons insights (exemplo: falou de organizações da sociedade civil, entre outras instituições que vieram a surgir no ocidente depois). Já o panorama de Xico Granziano é interessante, porém, falho em dois aspectos: 1. quanto ao aspecto alimentício da agro-indústria moderna (o qual nos direciona para um estado constante de guerra em que a comida é rápida e processada como nas trincheiras, e mesmo assim as pessoas estão cada vez mais gordas e sub-nutridas), 2. quanto ao estilo de vida atarefado e sem tempo da modernidade, claramente com grande influência da questão financeira e monetária que eu abordo no blog.

“Publicado em 1973, “Small is beautiful” foi um importante livro de minha geração. Criticava a economia moderna, considerada ‘insustentável’ pelo economista alemão Ernest Schumacher, seu autor. Intitulado, aqui, ‘O negócio é ser pequeno’, nele Schumacher defendia que as indústrias deveriam ser simples e espalhadas longe dos centros urbanos. Seus insumos deveriam ter fontes próximas e, o consumo, ser apenas local. Fora disso, feria a essência do ser humano. Nessa mesma época, a inesquecível Elis Regina cantava ‘Eu quero uma casa no campo’, maravilhosa composição de Tavito e Zé Rodrix (1972). Embora contestadores, os jovens universitários, como eu, adoravam essa ideia de curtir a mansidão da roça: “Eu quero carneiros e cabras. Pastando solenes no meu jardim…Eu quero plantar e colher com a mão”. Assim, a apologia da pequenez se associou ao bucolismo para, curiosamente, criar uma ideologia que negava o avanço do capitalismo moderno. Questionava-se a industrialização e a urbanização, supondo que devêssemos todos morar, descentralizadamente, no campo. Temíamos a crise ecológica planetária. Passados 50 anos, o rumo civilizatório seguiu em frente desprezando Schumacher e pouco se importando com Elis Regina. As regiões metropolitanas se fortaleceram, a industrialização concentrou capitais, surgiram os enormes supermercados, o agro se capitalizou. No Brasil e em todo o mundo. Curiosamente, porém, aquela utopia regressiva não desapareceu por completo. Percebe-se ainda sua presença, por exemplo, quando certos grupos de opinião hoje em dia criticam as complexas cadeias produtivas de alimentos. Tal opinião, que poderia ser denominada de ‘elitista-esquerdista’, julga correto, e possível, que as famílias abasteçam sua mesa com produtos naturais, oriundos de feiras locais e artesanais. Renegam os alimentos que consideram ‘ultra processados’. Alguns vão mais longe, e defendem que cada qual produza sua própria comida, como se fazia no passado, enaltecendo o cultivo ‘orgânico’ em hortas domiciliares e que tais. Esse contato com a natureza asseguraria a felicidade. Com a mão suja na terra, e com dinheiro no bolso, obviamente. Sinceramente eu não consigo entender como que, na atualidade, alguém imagine ser possível a humanidade voltar ao tempo da produção simples de mercadorias. Naquela época do ‘small is beautiful’, o mundo vivia uma transição demográfica, estando a população humana ao redor de 3,6 bilhões de habitantes. No Brasil, 50% das pessoas moravam na zona rural. Ademais, o Clube de Roma alertava que a civilização caminhava para um colapso ecológico, apregoando o ‘crescimento zero’ das economias, a ser realizado com absoluto controle populacional. Somente assim se evitaria a temida escassez de recursos naturais da Terra. O petróleo -eu acreditava nisso – iria acabar na virada do século. Felizmente, a tremenda evolução tecnológica, somada, claro, às políticas ambientais, derrubaram a previsão catastrófica do Clube de Roma. Hoje somos 7,8 bilhões de habitantes. No Brasil, 87% residem nas cidades. E a qualidade de vida mundial melhorou substancialmente. Em 1800, na época de Thomas Malthus, a Terra tinha 1 bilhão de habitantes e a expectativa média de vida era próxima de 37 anos; em 1900, passara para 45 anos e, agora, em 2020, ronda os 70 anos. No Brasil, a expectativa de vida era de 45,5 anos em 1945; hoje está em 76,7 anos de idade. Nessa circunstância, como pode alguém defender a virtude do modo de vida camponês, da agricultura medieval, de baixa produtividade? Trata-se de uma visão pós-capitalista restrita à participantes da elite econômica-social-intelectual, cujos dispêndios de alimentação pouco significam em seu consumo. É filosófico, não econômico. Essa elite da elite, conforme a denomino, combate a moderna produção de alimentos como que parecendo buscar uma fuga de sua existência fútil. Ela xinga o leite de caixinha, que não azeda, ou combate o alimento industrializado, que dispensa fogão à lenha, sem se importar com a vida difícil das pessoas simplórias e atarefadas que mal têm tempo para se sentar e comer e pagar a conta. É paradoxal. Pois quando passam um susto de saúde, sofrendo uma dor qualquer, procuram logo o melhor da medicina, a mais moderna ultrassonografia e o mais atual dos antibióticos. Odeiam agrotóxicos químicos, necessários para combater pragas agrícolas, mas se entopem de pílulas químicas exigidas para curar suas doenças. Ou regular seu humor. Schumacher foi um grande pensador. Elis Regina, uma grande cantora. Fazem parte da história da civilização. Que deixa um aviso: não anda de marcha-à-ré.””Publicado em 1973, “Small is beautiful” foi um importante livro de minha geração. Criticava a economia moderna, considerada ‘insustentável’ pelo economista alemão Ernest Schumacher, seu autor. Intitulado, aqui, ‘O negócio é ser pequeno’, nele Schumacher defendia que as indústrias deveriam ser simples e espalhadas longe dos centros urbanos. Seus insumos deveriam ter fontes próximas e, o consumo, ser apenas local. Fora disso, feria a essência do ser humano. Nessa mesma época, a inesquecível Elis Regina cantava ‘Eu quero uma casa no campo’, maravilhosa composição de Tavito e Zé Rodrix (1972). Embora contestadores, os jovens universitários, como eu, adoravam essa ideia de curtir a mansidão da roça: “Eu quero carneiros e cabras. Pastando solenes no meu jardim…Eu quero plantar e colher com a mão”. Assim, a apologia da pequenez se associou ao bucolismo para, curiosamente, criar uma ideologia que negava o avanço do capitalismo moderno. Questionava-se a industrialização e a urbanização, supondo que devêssemos todos morar, descentralizadamente, no campo. Temíamos a crise ecológica planetária. Passados 50 anos, o rumo civilizatório seguiu em frente desprezando Schumacher e pouco se importando com Elis Regina. As regiões metropolitanas se fortaleceram, a industrialização concentrou capitais, surgiram os enormes supermercados, o agro se capitalizou. No Brasil e em todo o mundo. Curiosamente, porém, aquela utopia regressiva não desapareceu por completo. Percebe-se ainda sua presença, por exemplo, quando certos grupos de opinião hoje em dia criticam as complexas cadeias produtivas de alimentos. Tal opinião, que poderia ser denominada de ‘elitista-esquerdista’, julga correto, e possível, que as famílias abasteçam sua mesa com produtos naturais, oriundos de feiras locais e artesanais. Renegam os alimentos que consideram ‘ultra processados’. Alguns vão mais longe, e defendem que cada qual produza sua própria comida, como se fazia no passado, enaltecendo o cultivo ‘orgânico’ em hortas domiciliares e que tais. Esse contato com a natureza asseguraria a felicidade. Com a mão suja na terra, e com dinheiro no bolso, obviamente. Sinceramente eu não consigo entender como que, na atualidade, alguém imagine ser possível a humanidade voltar ao tempo da produção simples de mercadorias. Naquela época do ‘small is beautiful’, o mundo vivia uma transição demográfica, estando a população humana ao redor de 3,6 bilhões de habitantes. No Brasil, 50% das pessoas moravam na zona rural. Ademais, o Clube de Roma alertava que a civilização caminhava para um colapso ecológico, apregoando o ‘crescimento zero’ das economias, a ser realizado com absoluto controle populacional. Somente assim se evitaria a temida escassez de recursos naturais da Terra. O petróleo -eu acreditava nisso – iria acabar na virada do século. Felizmente, a tremenda evolução tecnológica, somada, claro, às políticas ambientais, derrubaram a previsão catastrófica do Clube de Roma. Hoje somos 7,8 bilhões de habitantes. No Brasil, 87% residem nas cidades. E a qualidade de vida mundial melhorou substancialmente. Em 1800, na época de Thomas Malthus, a Terra tinha 1 bilhão de habitantes e a expectativa média de vida era próxima de 37 anos; em 1900, passara para 45 anos e, agora, em 2020, ronda os 70 anos. No Brasil, a expectativa de vida era de 45,5 anos em 1945; hoje está em 76,7 anos de idade. Nessa circunstância, como pode alguém defender a virtude do modo de vida camponês, da agricultura medieval, de baixa produtividade? Trata-se de uma visão pós-capitalista restrita à participantes da elite econômica-social-intelectual, cujos dispêndios de alimentação pouco significam em seu consumo. É filosófico, não econômico. Essa elite da elite, conforme a denomino, combate a moderna produção de alimentos como que parecendo buscar uma fuga de sua existência fútil. Ela xinga o leite de caixinha, que não azeda, ou combate o alimento industrializado, que dispensa fogão à lenha, sem se importar com a vida difícil das pessoas simplórias e atarefadas que mal têm tempo para se sentar e comer e pagar a conta. É paradoxal. Pois quando passam um susto de saúde, sofrendo uma dor qualquer, procuram logo o melhor da medicina, a mais moderna ultrassonografia e o mais atual dos antibióticos. Odeiam agrotóxicos químicos, necessários para combater pragas agrícolas, mas se entopem de pílulas químicas exigidas para curar suas doenças. Ou regular seu humor. Schumacher foi um grande pensador. Elis Regina, uma grande cantora. Fazem parte da história da civilização. Que deixa um aviso: não anda de marcha-à-ré.”

Por Xico Graziano, autor do livro “O Carma da Terra no Brasil“. Link: http://catve.com/xico-graziano/335791/como-o-small-is-beautiful-perdeu-o-sentido-escreve-xico-graziano